quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Avante Homens!


Na Itália, em uma manhã de primavera em 1945, soldados brasileiros compartilham um momento de tensão dentro de seus pequenos abrigos de proteção contra granadas. Uns reliam cartas recebidas de suas famílias juntamente com fotos de seus entes queridos, outros rezavam, outros ainda contavam piadas e emitiam gracejos que não emplacavam na tentativa de animar seus companheiros e amenizar o nervosismo. Alguns, principalmente os tenentes líderes de pelotão, checavam armas, conferiam munição e recebiam informações importantes pelo telefone de campanha. Do outro lado da linha telefônica estava o “soldado observador”. Essa cena relatada de uma maneira resumida retrata uma situação corriqueira da vida dos combatentes brasileiros na Segunda Guerra Mundial: a espera para o “golpe de mão” da patrulha. Em momentos como esse, eram vários os combatentes brasileiros envolvidos na ação que contava não apenas com os grupos de combate feitos de soldados, cabos, sargentos e tenentes, mas também do trabalho sempre importante dos “P.O.”( Postos de Observação ).

A FEB (Força Expedicionária Brasileira) foi enviada para fazer a guerra em um local montanhoso repleto de pequenas cidades e vilas. O inimigo quase sempre a aguardava guarnecido de morteiros e metralhadoras, se aproveitando dos acidentes do relevo e dos escombros das cidades bombardeadas para atuar com o elemento surpresa a seu favor. Os soldados alemães e italianos eram experientes em combate e sabiam se esconder muito bem. Aliás, em uma guerra, um bom esconderijo pode ser tão importante como uma arma carregada. Na condição de alvo do elemento surpresa, um grupo de soldados brasileiros não teria a mínima chance de sair ileso de um ataque bem planejado e executado pelo inimigo. Era preciso avisar com antecedência os brasileiros que no terreno diante da patrulha havia inimigos instalados e a espreita. Essa função estava sob a responsabilidade dos “soldados observadores”.
No cume de uma elevação ou no alto de um prédio, esses soldados especializados, munidos de binóculos, conseguiam avistar uma tropa inimiga ocupando previamente um terreno. No contexto da guerra na Itália, a identificação das posições inimigas salvou muitas vidas brasileiras. Portanto, nossa tropa nunca esteve sozinha no campo de batalha. Cabia aos “soldados observadores” o levantamento de coordenadas e informações topográficas que fariam parte dos planos de movimentação de nosso exército.

Muitas vezes era preciso arriscar a vida para informar a tropa sobre as condições do ataque e o “soldado observador” fazia esse trabalho com muita eficiência. Nesse contexto, cabia aos sempre jovens oficiais o comando de seus grupos de combate e aos soldados observadores a informação precisa para que tal trabalho se concretizasse com chances de sucesso, mesmo que para isso a observação fosse feita a menos de um km do inimigo.

A guerra na qual participou a FEB foi feita na maioria dos casos de patrulhas em combates urbanos e de montanha, considerados os mais difíceis de se praticar até hoje. A geografia da península italiana, ao contrário de outras frentes da guerra na Europa, induzia o emprego de pelotões de fuzileiros para ocuparem posições isoladas e distantes, muitas vezes em setores inóspitos da linha de frente, operações que poderiam acontecer por dias, semanas e meses. Portanto, a guerra que os brasileiros enfrentaram foi mais de capitães, tenentes, sargentos e soldados, com embates decididos à base de metralhadora, morteiros, bazucas e granadas de mão, ou seja, em situações de alto risco de morte. Nesse contexto, o sucesso das operações estava mais de 50% sob responsabilidade dos soldados observadores que, em meio as batalhas, orientavam os tiros da artilharia sobre o inimigo para salvar as patrulhas amigas dos sufocos do combate, informando nossos comandantes a respeito da situação dos brasileiros na batalha em desenvolvimento e até solicitando o cessar fogo para a atuação dos padioleiros após uma bandeira branca desfraldada e devidamente identificada pelo P.O.. Capitães e tenentes e seus subalternos executavam suas missões por meio da confiança nos observadores com os quais sempre lutavam lado a lado.

Apesar da importância do trabalho dos observadores, alguns oficiais brasileiros, talvez por excesso de bravura, teimavam em desconsiderá-los em momentos cruciais de suas ações. Em atitudes irrefletidas como essa, o risco de morte aumentava mesmo no cumprimento das tarefas mais simples. Certa vez um tenente brasileiro saiu com seu pelotão para uma patrulha noturna, momento em que os francos atiradores alemães preferiam agir, e ao final do percurso contrariou as informações dos observadores e o bom senso e, por “valentia”, entrou desprotegido em uma vila juntamente com seis soldados sob seu comando. Cercado por tropas inimigas, morreu juntamente com alguns de seus comandados.

Em meio aos vários fatos ocorridos na passagem da FEB na guerra na Itália, seja nas montanhas e vilas medievais, entre cargas de morteiros e espocar dos fuzis e metralhadoras, além do valor de nossos soldados de infantaria da linha de frente, armados de fuzis e metralhadoras, houve a atuação eficiente dos observadores que munidos apenas de binóculos, bússolas e telefones participaram ativamente dos sucessos da FEB.

Nenhum comentário:

Postar um comentário