domingo, 29 de agosto de 2010

O saber e o agir


A Sociologia e suas análises da política são necessárias para o desenvolvimento de nossas ações em sociedade. Seja o que for feito, ninguém nega a importância de se refletir, pensar, diagnosticar a situação, a conjuntura nas quais se pretende agir e interferir na realidade. Como posso participar da melhora de um grupo de pessoas (na qual posso me incluir) se não conheço adequadamente as relações constantes dessas pessoas? Como posso prescrever um remédio se não conheço a doença, ou mesmo construir uma ponte sem determinar as características do terreno e dos materiais que utilizo para tal? Nesse caso, o estudo das estruturas sociais, da maneira constante como pensam, agem e sentem as pessoas, das causas dessas formas gerais de ser sociais deve ser a base e anteceder a ação, a atuação o exercício da liberdade e da política que, assim, se tornam obrigatoriamente conscientes.

A investigação das estruturas sociais, desde as formas de família, economia, religião, até as formas mais simples da vida social, do namoro e da diversão, nos coloca uma questão a resolver: como conceber a liberdade se as estruturas determinam a ação humana? Onde a ação humana é mais decisiva?

Bem, desde os clássicos das Ciências Sociais, principalmente desde Marx, sabemos que “o homem faz a história dentro de condições determinadas”, mas é o único ser que faz a história. Os humanos constroem suas vidas coletivas nunca do jeito que querem ou sonham, mas sempre na medida em que fazem, isto é, é preciso fazer, é preciso agir. Claro, há o peso brutal das estruturas, porém é preciso ter uma saída: a atuação.

Mesmo que a situação esteja caótica, é preciso existir o ator. Com todo o peso das estruturas, falta ainda o ator na política. Volto a afirmar: se não houver quem faça não haverá saída e não haverá história. Caso contrário, os males que a sociedade apresenta não terão solução, nunca.

Muitos dizem que essa solução está na política. Isso me fez lembrar de Maquiavel: é preciso ter o líder, o realismo sem utopias e as utopias com realismo e, principalmente ter o fazer. Calma! Vamos tentar tornar isso mais compreensível.

O político não é aquele que tem utopias (apesar de te-las mesmo que escondidas ou de forma inconsciente) e sim aquele que faz o caminho, é quem cria as condições para a realização (o fazer). Porém é preciso que o fazer esteja apontado para algum lugar senão não há política. É preciso ter visão de onde se quer chegar mesmo que você não chegue. Se tivermos somente a utopia, nos tornamos poetas, pregadores...o utopista nunca se transformará em ator.

Nesse caso, muito poderá ser dito, debates serão feitos, mas nada mudará. É preciso analisar a pulsação da sociedade, pois de repente, do nada, ela pulsa. Quando pulsa, estará aberta para as ações, o fazer, a política e a liberdade.

O problema maior é que as sociedades não ficam sempre pulsando, fervendo. Elas param, as vezes. Portanto, o conhecimento das estruturas pode ser uma boa forma de identificar os momentos da pulsação e das portas que se abrem para as ações das pessoas que transformam realidades.

Nesses momentos impares, a questão da liderança e da ação estarão abertas, pois a sociedade estará disposta a ouvir. Marx, certa vez, afirmou algo parecido com isso: “Não basta haver a verdade, é preciso que os problemas tenham tal magnitude e que a sociedade esteja disposta a ouvi-la”.

Mas, quem fará o que é preciso? Nesse terreno, a persuasão é mais adequada que o convencimento. Nas mãos do ator, que conhece as estruturas e sabe que as portas foram abertas para o exercício da ação, o convencimento racional não terá utilidade. Precisamos persuadir e não convencer para termos seguidores, pois uma andorinha só não faz verão. Precisamos ser políticos.