sexta-feira, 23 de abril de 2010

PARA ENTENDER ASPECTOS DE MARX



DIALÉTICA: método e visão de mundo.

A dialética concebe tudo em movimento; afirmar segundo tal concepção que algo é significa, que este mesmo algo está em determinado momento, dessa ou daquela forma, de acordo com certo estágio de desenvolvimento – momento processual – ainda não plenamente realizado. Exemplo: um professor não “nasce” professor, torna-se professor, ou, ninguém nasce mulher ou homem, torna-se mulher ou homem. A flor não é só flor, mas todo o processo desde a semente até sua morte. Para a dialética, as coisas não são, elas vem a ser. Nesse caso, somos conforme as circunstâncias e ao mesmo tempo nossas próprias escolhas. Se quisermos entender o ser humano, devemos estudá-lo ao longo de sua vida, perceber o contexto de suas escolhas, acompanhá-lo nos diferentes processos a caracterizar o seu dia-a-dia. Seu “eu” e seu lugar no mundo.
A Dialética é uma visão de mundo e também um método de interpretar a realidade. Quais seriam as características essenciais de tal visão de mundo?

a) A TESE: a idéia de mútua determinação entre as partes componentes do real (a idéia de totalidade)
b) A ANTÍTESE: a idéia de que tudo o que existe é contraditório – a contradição existindo como razão de ser de tudo que existe (o “motor” da vida)
c) A SÍNTESE: a idéia de negação da negação, ou seja, a realidade se coloca como necessidade de mudança constante.

A contradição constitui a essência do existir. Segundo certa concepção da realidade (lógica formal), ser e não ser ao mesmo tempo não seria possível. Entretanto, para a Dialética algo é e não é ao mesmo tempo e tudo está sendo assim ou assado. Para Aristóteles, os escravos eram escravos; para um dialético os escravos estavam (na condição de) escravos, pois havia também senhores, isto é, só haveria o homem que nada tem (o escravo) se houvesse o homem que tudo tem (o senhor). Nesse caso, o escravo seria tudo o que o senhor não é e vice-versa: o senhor seria tudo o que o escravo não é.

O ESTUDO DIALÉTICO DO HUMANO: a produção da vida.

Vida é atividade. Vivemos a depender do quanto somos ativos. Se a intenção é entender o homem, deve-se reproduzir teoricamente a maneira ou as formas de atuação dele. Em cada momento da vida humana, ou em cada período histórico, os homens tiveram que se organizar de um determinado modo para produzir condições para sua sobrevivência. O homem é o que produz e também a forma como produz.
O homem é, dependendo do que e de como faz. Não só transforma, de uma forma específica a natureza ao seu redor, mas também se transforma, arrancando de si novas qualidades e potências quando age dessa maneira. Quando trabalhamos (historicamente), buscamos retirar da natureza certos materiais para que sejam transformados e passem a atender as nossas necessidades humanas. Corto uma árvore e transformo-a em madeira, tábua, matéria prima. Faço uma mesa. Ao fazer isso (ao trabalhar) o homem está na verdade dominando a natureza (a própria e a externa) e ao mesmo tempo conhecendo suas “leis” internas; “arranca” de si mesmo nesse processo novas qualidades, desenvolve novas potencialidades; adapta os materiais da natureza às suas necessidades.
O homem, vivendo (trabalhando), não apenas desenvolve novas técnicas e conhecimentos, mas também vai aos poucos modificando as condições nas quais ele existe; produzindo novas maneiras de pensar, sentir, fabular, ou dito em uma só palavra, de viver. Vida é atividade.

O TRABALHO HUMANO: os Modos de Produção.

Tendo de sobreviver o homem precisou ao longo do tempo conhecer, conquistar e dominar a natureza (a própria e a natural). Cada grupo humano num certo momento da história teve que se organizar de determinado modo, para atender as próprias demandas e/ou necessidades. Nesse caso, como entender a história? Marx procura compreender e interpretar as diferentes formas de vida coletiva ao longo do tempo. Percebeu certos estágios de desenvolvimento no que se refere à capacidade do homem para produção e transformação da natureza (tanto interna, de si mesmo, quanto externa). A esses estágios ou momentos do desenvolvimento humano denominou modos de produção.
Modo de produção pode ser definido como um determinado conjunto de estratégias produtivas e organizatórias, de conhecimentos, relações socais e/ou ações dirigidas, objetivando transformar a natureza e garantir desta forma, as condições indispensáveis ao existir humano em um determinado espaço e momento históricos.
Para Marx, um determinado modo de produção possui dois elementos básicos:
a) forças produtivas (por exemplo: união de um indivíduo com um determinado tipo de instrumento de trabalho 0 o homem e uma enxada, um homem e um trator);
b) relações de produção (por exemplo: a relação de um escravo com seu dono, de um servo com seu senhor ou de um assalariado com seu patrão).

Basicamente existiriam quatro modos de produção:
a) o modo de produção asiático (Egito, Mesopotâmia, China e Índia da Antiguidade);
b) o modo de produção escravista (Grécia e Roma);
c) o modo de produção feudal (responsável pela formação da cultura ocidental moderna);
d) o modo de produção capitalista ( dominante na época de Marx e em decisivo processo de expansão em todo o mundo).

A REVOLUÇÃO: o desenvolvimento dos Modos de Produção.

A passagem de um modo de produção para outro só ocorrerá quando o desenvolvimento das contradições e potencialidades desse mesmo modo de produção atingirem alguma maturidade. Isso somente acontece a partir do momento em que as relações sociais entravam, impedem ou dificultam o desenvolvimento das forças produtivas. A passagem de um modo de produção para outro tanto pode significar progresso (como por exemplo, no caso do feudalismo para o capitalismo) ou retrocesso (como por exemplo, no modo de produção escravista para o modo de produção feudal) no que se refere ao desenvolvimento das forças produtivas e capacidades humanas. A passagem do modo de produção capitalista para o modo de produção socialista não poderá ocorrer de forma espontânea (tal qual se deu no passado com outros tipos de modo de produção). Só o proletariado organizado e consciente de sua tarefa ou “missão” histórica poderá realizar tal transição.

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