sexta-feira, 23 de abril de 2010

Durkheim e as relações da sociedade com o individuo


Considerado um dos pais da sociologia moderna, David Èmile Durkheim fundou a escola de sociologia francesa que, com seus inúmeros adeptos, influenciou decisivamente a história dessa ciência até meados do século XX.
Apesar de ter sido considerado um clássico das ciências sociais, referência teórica respeitada em todo o mundo, Durkheim sempre trabalhou engatado em sua época e preocupado com os problemas de seu país.
A exemplo de Comte, produziu um conjunto de conceitos e teorias explicativas da sociedade com o intuito de participar dos grandes acontecimentos de seu tempo e interferir na realidade que estava em sua frente, apresentando soluções científicas para os problemas sociais. Suas aulas na universidade sempre foram pautadas por temas oriundos da sociedade e da economia francesas do século XIX. Ministrando aulas sobre a Educação e a divisão do trabalho social, ou publicando textos dobre o suicídio e as formas elementares da vida religiosa, Durkheim sempre pretendeu associar a sociologia (o conhecimento científico) as propostas de entendimento e solução dos problemas da sociedade industrial em consolidação.
Durkheim nasceu na cidade de Épinal, situada na região de Lorena no nordeste da França, em 15 de abril de 1858. Viveu numa família muito religiosa na qual seu pai era um rabino. Não seguiu o caminho da família, optando por uma vida secular. Desde jovem, foi um opositor da educação religiosa, defendendo o método científico como única forma de desenvolvimento do conhecimento. Talvez como resquício desse momento de inconformismo religioso, em boa parte dos seus trabalhos, Durkheim procurou demonstrar que os fenômenos religiosos tinham origem em acontecimentos sociais.
Em 1879, aos 21 anos de idade, Durkheim foi estudar na Escola Normal Superior em Paris (École Normale Supérieure) e passou a dedicar-se ao mundo intelectual, formando-se em Filosofia no ano de 1882. Na faculdade conheceu as obras de Auguste Comte e de Herbert Spencer que se tornariam referências permanentes em sua formação científica e em seu estudo dos fenômenos sociais. Cinco anos após sua formatura, foi trabalhar na Universidade de Bordéus como professor de pedagogia e ciência social. Neste período, começaram seus estudos sobre sociologia.
Ainda em sua juventude, Durkheim presenciou alguns fatos marcantes que certamente refletiram nos fundamentos de seu trabalho intelectual. Em 1º de setembro de 1870, a França é derrotada em Sedan e logo depois capitula diante das tropas alemãs de uma maneira traumática para sua população. Como elemento do acordo de paz entre essas duas nações, os franceses derrotados perderam parte da Lorena (medida que transformou a cidade natal de Durkheim em uma terra fronteiriça no conflito franco-alemão). Nesse momento foi proclamada a III República que ficou com a responsabilidade de administrar as dívidas humilhantes oriundas a derrota e reorganizar o Estado em meio a um imenso “vazio moral” e a crescente descrença dos franceses em seu governantes. Ainda como responsabilidade do novo governo francês, foi pacificada a revolta popular da Comuna de Paris levando a morte vários trabalhadores e cidadãos franceses na capital. Esse contexto foi lido pelos franceses (e não só por eles) com um momento de grave crise moral, tornando a moralidade alvo de investigações filosóficas e religiosas. Durkheim deu a sua contribuição científica para esse debate, explicando a origem da moralidade nos fatos sociais, na sua coerção e em suas funções para a sociedade.
A III República trouxe ainda uma série de medidas de ordem política que geraram grande polêmica, entre elas podemos citar a instituição do divórcio na França, a implantação de um novo sistema de ensino, tornando-o gratuito e proibindo formalmente o ensino religioso, propostas que geram acirrados debates, pois rompiam com arraigadas tradições do povo francês. Os famosos escritos de durkheimianos sobre a função social da Educação (referência bibliográfica ainda atual na Pedagogia) foram escritos como parte dos debates desse momento.
Ao mesmo tempo que essas questões políticas e morais tomavam conta do cenário social da França no final do século XIX, questões de natureza econômica repercutiram. A França de Durkheim vivia a bipolarização entre burguesia e proletariado, com a organização dos trabalhadores impulsionando greves e passeatas, preocupando não somente políticos mas também intelectuais da época. Na famosa obra da sociologia “A Divisão do Trabalho Social”, Durkheim nos mostra como a solidariedade, ao invés da produtividade, é a função do trabalho coletivo.
Portanto, ao lado das preocupações especificamente teóricas e metodológicas da elaboração da sociologia, havia o cidadão Durkheim e suas intenções de participar das questões de sua época fornecendo ferramentas intelectuais que pudessem levar as autoridades a intervirem de forma eficiente em uma realidade problemática e cheia de conflitos.

A primeira obra de Durkheim

Durante os anos em que ministrou aulas de Filosofia em várias escolas, Durkheim volta seu interesse para a Sociologia. Apesar de a França ser o berço da ciência social devido aos trabalhos de Comte, não havia nesse país o ensino regular dessa disciplina. Além desse fato, a Sociologia recebia influência cada vez mais forte das propostas socialistas e da política própria do movimento operário, já que o positivismo comteano perdia cada vez mais adeptos na França. Decidido a desfazer essa confusão de fundamentos, Durkheim trabalha para emancipar a Sociologia da Filosofia Social (seja ela comteana, marxista ou anarquista), com o objetivo de concebê-la como disciplina científica rigorosa passível de ensino nos colégios, faculdades e universidades.
Seu primeiro trabalho publicado (1893) foi o resultado de seu doutoramento: “A Divisão do Trabalho Social” ( De la division du travail social ). Nesse texto ( que alcançou grande repercussão no meio acadêmico e também fora dele) Durkheim estuda a interação social entre os indivíduos que integram uma coletividade, isto é, quais são as condições existência da sociedade. Trata-se de um tema central da sociologia pensamento sociológico de Durkheim, cujo principal interesse é desvelar os fatores que possibilitam a coesão (unidade, estabilidade) e a permanência (ou continuidade) das relações sociais ao longo do tempo e de gerações. Dentro dessa perspectiva sociológica , a existência de uma sociedade só é possível a partir de um determinado grau de consenso entre seus membros constituintes: os indivíduos. Segundo Durkheim, esse consenso se assenta em diferentes tipos de solidariedade social.

A solidariedade mecânica

Durkheim, como já dissemos, esclarece que a existência de uma sociedade, bem como a própria coesão social, está baseada num grau de consenso entre os indivíduos e que ele designa de solidariedade. De acordo com o autor, há dois tipos de solidariedade.
A solidariedade mecânica prevalece naquelas sociedades ditas "primitivas" ou "arcaicas", ou seja, em agrupamentos humanos de tipo tribal formado por clãs. Nestas sociedades, os indivíduos que a integram compartilham das mesmas noções e valores sociais tanto no que se refere às crenças religiosas como em relação aos interesses materiais necessários a subsistência do grupo, essa correspondência de valores assegura a coesão social. Nessa sociedade, os indivíduos se identificam através da família, da religião, da tradição, dos costumes. É tipo de sociedade que tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciam e por isso a dinâmica da integração de seus membros está no reconhecimento dos mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade. Portanto, é uma solidariedade baseada na semelhança entre os indivíduos.
Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, com o desenvolvimento da vida coletiva na história a base do consenso tornar-se jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna e mais complexa, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo. A essa forma moderna de solidariedade Durkheim nomeia de solidariedade orgânica.

A solidariedade orgânica
De modo distinto, a solidariedade orgânica que é a do tipo que predomina nas sociedades ditas "modernas" ou "complexas" do ponto de vista da maior diferenciação individual e social (o conceito pode ser aplicado às sociedades capitalistas). Além de não compartilharem dos mesmos valores e crenças sociais, os interesses individuais são bastante distintos e a consciência de cada indivíduo é mais acentuada.
A divisão econômica do trabalho social é mais desenvolvida e complexa e se expressa nas diferentes profissões e variedade das atividades industriais.
Durkheim emprega alguns conceitos das ciências naturais, em particular da biologia (paradigma científico do conceito de vida, muito em uso na época em que ele começou seus estudos sociológicos), concebendo as sociedades complexas como grandes organismos vivos, onde os órgãos são diferentes entre si (que neste caso corresponde à divisão do trabalho), mas todos dependem um do outro para o bom funcionamento do ser vivo. A crescente divisão social do trabalho faz aumentar também o grau de interdependência entre os indivíduos. Para garantir a coesão social, portanto, onde predomina a solidariedade orgânica, a coesão social não está assentada em crenças e valores sociais, religiosos, na tradição ou nos costumes compartilhados, mas nos códigos e regras de conduta que estabelecem direitos e deveres e se expressam em normas jurídicas: isto é, o direito.
Vale lembrar do alerta que Durkheim nos faz a respeito da solidariedade típica das sociedades modernas. Com do aumento do individualismo, a coesão social poderia se enfraquecer e o excesso de individualismo (diferenciação) pode levar a anomia (ausência de coesão). Para se manter a coesão social (a vida da sociedade) Durkheim ressalta a importância do direito e de todo o sistema jurídico moderno. Portanto, apesar de defender, de certa forma, o pensamento liberal como forma última de evolução e, assim, justificar o individualismo racionalista típico das sociedades modernas e orgânicas, Durkheim prega o respeito por normas e valores coletivos previstos em Lei.

A Consciência coletiva e a Instituição Social
O conceito de consciência coletiva, fundamental para a sociologia durkheimiana, decorre dos estudos realizados sobre os tipos de solidariedade. Segundo Durkheim, o conjunto de crenças e de sentimentos comuns entre os membros de uma mesma sociedade que forma um sistema determinado, tendo uma existência própria, é denominado consciência coletiva ou comum. Essa consciência não tem como base um órgão único, seria difusa, ocupando toda a extensão da sociedade. Ela seria independente das condições particulares em que se situam os indivíduos, seria a mesma no Norte e no Sul, nas grandes e nas pequenas cidades, nas diferentes profissões. Portanto, não se confunde com as consciências particulares, embora se realize apenas nos indivíduos. Seria o tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, condições de existência, seu modo de desenvolvimento, exatamente como os tipos individuais, embora de outra maneira, não mudando com o passar das gerações, mas ao contrário ligando as gerações que se sucedem. Nesse momento de sua elaboração teórica, Durkheim defende também o primado da sociedade sobre o indivíduo. Partindo deste raciocínio ele desenvolve um dos seus principais conceitos: o conceito de Instituição.

A Instituição social seria um mecanismo de proteção da sociedade, feita de um conjunto de regras e de procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade, cuja importância seria o de manter a organização do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam. As instituições seriam, portanto conservadoras por essência, quer seja ela a família, a escola, o governo, a polícia ou qualquer outra, agem fazendo força contra as mudanças, pela manutenção da ordem.
Durkheim deixa bem claro em sua sociologia o quanto acredita que essas instituições são valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua obra. Mas Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador, sua defesa das instituições se baseia num ponto fundamental: o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras, sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero.
A Anomia Social
Não é coincidência que Durkheim tenha se preocupado com a condição do individuo no interior da sociedade justamente em um momento em que as instituições sociais se encontravam enfraquecidas na Europa. Durante o final do século XIX, muito dos valores tradicionais foram rompidos e novos surgiam, havia muita gente vivendo em condições miseráveis, desempregadas, doentes e marginalizadas. Esses problemas observados foram considerados como uma espécie de patologia do organismo social levando Durkheim a desenvolver o conceito de Anomia.
Na tentativa de “curar” a sociedade da anomia, Durkheim descreve a necessidade de se estabelecer nela uma organicidade. Seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, cada membro da sociedade deveria se manter coeso a um meio moral (sentindo-se parte de um todo) e solidário aos outros, exercendo uma clara e importante função na divisão do trabalho. A essa função o indivíduo seria obrigado através de um sistema de direitos e deveres. Portanto, a anomia seria algo que devia ser vencido e a sociologia seria o meio para isso. Ao sociólogo caberia estudar, entender e ajudar a sociedade a alcançar o seu estado de “saúde”, defendendo as Instituições sociais para que os indivíduos interiorizassem o fato deles necessitarem da sociedade de forma orgânica.
Desses estudos decorre uma das mais importantes posturas teórico-metodológicas da sociologia de Durkheim: os fenômenos individuais devem ser explicados a partir da coletividade, e não a coletividade pelos fenômenos individuais. Donde a divisão do trabalho ser um fenômeno social que só pode ser explicado por outro fenômeno social, como a combinação do volume, densidade material e moral de uma sociedade, sendo que o único grupo social que pode proporcionar a integração dos indivíduos na coletividade é a corporação profissional.
O Fato Social e o método da Sociologia
Após apresentar a sua sociologia ao mundo com a publicação de seus primeiros conceitos, Durkheim se dedica à tarefa de elaborar as bases metodológicas dessa ciência, para que a mesma se tornasse uma disciplina rigorosamente científica e ministrável nos colégios, faculdades e universidades francesas.
Em sua nova empreitada, Durkheim identificou o objeto específico e definiu o método e as aplicações desta nova ciência. Nesse contexto, formulou com clareza o tipo de acontecimento sobre o qual o sociólogo deveria se debruçar, denominando-o de fato social e que deveria ser o objeto da Sociologia. Portanto, para que haja tal ciência seriam necessárias duas coisas: um objeto específico que se distinga dos objetos das outras ciências e um objeto que possa ser observado e explicado, como se faz nas ciências. Em 1895, Durkheim publica o estudo denominado "As Regras do Método Sociológico", onde define o objeto por excelência da sociologia: os fatos sociais.
Como já mencionamos, para Durkheim a sociedade prevalece sobre o indivíduo. Essa sociedade seria um conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento que não existem apenas na consciência dos indivíduos, mas que são construídas exteriormente, isto é, fora das consciências individuais. Na vida em sociedade, o homem se defronta com regras de conduta que não foram diretamente criadas por ele, mas existem e são aceitas em sociedade, devendo ser erguidas por todos. Sem regras a sociedade não existiria, por isso os indivíduos devem obedecê-las. Em toda sociedade, existem leis que organizam a vida em conjunto e os indivíduo reformulando-as coletivamente. Essas leis são transmitidas para as gerações seguintes na forma de códigos, decretos, constituição, etc. Durkheim afirma que os fatos sociais, o objeto de estudo da sociologia, são justamente essas regras e normas coletivas que orientam a vida dos indivíduos. Ele chama de reino social o lugar em que esses fatos se desenvolvem. Portanto, Durkheim defende a idéia de que em toda sociedade há um certo número de maneiras de pensar, de sentir e de agir que por suas características observadas não podem ser considerados frutos da psicologia individual mas sim do meio social, da coletividade, ou seja, da sociedade. Na obra “As Regras do Método Sociológico”, Durkheim resume todas essas idéias definindo o fato social (o objeto de estudo da Sociologia) como toda forma de pensar, sentir e agir que é coletiva, exterior e coercitiva ao individuo.
Para esclarecer o significado do Fato Social, vamos apresentar cada uma de suas características identificadoras.

1) coercitividade: a força que exercem sobre os indivíduos obrigando-os através do constrangimento a se conformarem com as regras, normas e valores sociais vigentes;
2) exterioridade: um fenômeno social que atua sobre os indivíduos, mas independe das vontades individuais;
3) generalidade: a manifestação de um fenômeno que permeia toda a sociedade, isto é, que atua sobre a grande maioria dos indivíduos de um grupo social determinado.

O que Durkheim quer nos dizer também com essa definição é que o fatos social, além de ser um produto exclusivamente coletivo, possui uma realidade objetiva e que, portanto, é passível de observação externa do sociólogo. Deve, desta forma, ser tratado metodologicamente como "coisa". Essa postura científica é o fundamento de todo o método durkheimiano exposto nas “Regras do Método Sociológico”. Não podem ser confundidos com os fenômenos orgânicos nem com os psíquicos, constituem uma espécie nova de fatos. O pesquisador deve isolar o fenômeno estudado de idéias individuais impostas ou pressupostas, analisando particularmente o fenômeno na forma em que se encontra, orientando-se pela natureza das coisas e não pelo “senso comum”.
Dizer que os Fatos Sociais devem ser estudados e explicados como coisas, quer dizer que os fenômenos sociais seriam exteriores aos indivíduos, inclusive ao cientista que o estuda. Sendo coisas, os fenômenos sociais deveriam ser conhecidos não pelo método psicológico, pela busca das razões internas aos indivíduos, mas sim externamente a ele na própria sociedade e na interação dos fatos sociais. Aquelas formas de ser (de pensar, sentir e agir) que pensamos ser produto de nossa intimidade e individualidade, isto é, de nossa natureza humana, seriam coletivas e introjetadas em nós de fora pela ação da sociedade.
O suicídio, por exemplo, que a primeira vista pode ser encarado como um fenômeno individual, é um fato social para Durkheim. A constatação da regularidade de suicídios na França ao longo do tempo (de acordo com os dados estatísticos), o estudo de sua forma de atuação e disseminação em um determinado grupo social (a sociedade francesa do final do século XIX) fez com que Durkheim o concebesse como um fenômeno social, propriamente um fato social, que é explicado pelo autor como um fato próprio da crise moral da sociedade, isto é, de funções e disfunções da consciência coletiva e não como a simples soma de estados psicológicos individuais de uma população.
Vale lembrar que para Durkheim, a sociedade não seria simplesmente a realização da natureza humana, mas, ao contrário, aquilo que é considerado natureza humana seria, na verdade, produto da própria sociedade. Não seria a simples soma de seus indivíduos componentes, mas um ser novo com uma existência própria e independente de seus membros. Nesse caso, tratar os Fatos Sociais como “coisas” seria respeitar a dinâmica própria da realidade social e de seus fenômenos. Na obra “O Suicídio”, uma brilhante obra de análise sociológica aplicada, Durkheim seguiu rigorosamente o método elaborado para a sua sociologia e chegou a resultados surpreendentes para época mudando definitivamente a visão das pessoas a respeito do fenômeno da morte voluntária.
A sociologia, a filosofia e a educação.
Um último aspecto da sociologia durkheimiana, sempre mencionado por seu autor, é a contraposição dela ao conhecimento filosófico da sociedade. Segundo Durkheim, a filosofia parte da tentativa de explicar a sociedade a partir do conhecimento da natureza humana. Ou seja, para os filósofos o conhecimento da sociedade pode ser feito a partir de dentro, do conhecimento da natureza do indivíduo. Durkheim inverte a visão filosófica de que a sociedade é a realização de consciências individuais. Para ele, as consciências individuais são formadas pela sociedade por meio daquilo que Durkheim denominou de processo de socialização. Nessa concepção, as consciências individuais são formadas pela sociedade. Em oposição ao idealismo filosófico, de acordo com o qual a sociedade é moldada pelo "espírito" ou pela consciência humana, Nas palavras de Durkheim, "a construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios — sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento — que balizam a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela". Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, diminuiu o valor que as capacidades individuais teriam na constituição e no desenvolvimento da vida coletiva.

Atenção ao conceito de Coerção Social
Segundo Durkheim, a coerção social seria a força que os fatos sociais exercem sobre os indivíduos, obrigando-os a conformarem-se às regras impostas pela sociedade em que vivem, não havendo a escolha dos indivíduos. Tal força manifesta-se quando o indivíduo adota um determinado idioma, quando aceita determinado tipo de formação familiar ou quando está subordinado a determinado código de leis. A coerção é constatada pelas sanções que serão impostas ao indivíduo, caso ele venha a se rebelar. Essas sanções, em princípio, são espontâneas, para desvios leves, provenientes de uma conduta não adaptada à estrutura do grupo ou da sociedade à qual o indivíduo pertence. Desvios considerados graves sofrem coerção através da punição (peso das leis). Essas regras são transmitidas através da educação, seja ela formal ou informal. Na nossa cultura, o uso de vestimentas é algo que vem sendo transmitido de gerações para gerações, fazendo com que o indivíduo tenha essa prática naturalmente. Aquele que por alguma razão não o fizer, estará sujeito a ser excluído ou discriminado dentro do seu grupo, por não enquadrar-se aos padrões que a própria sociedade determinou.

A objetividade do método sociológico.
Durkheim procurou definir o método científico de conhecimento para a sociologia. Para ele, toda explicação científica exigiria que o pesquisador mantivesse uma certa distância e tivesse neutralidade em relação aos fatos, pois valores e sentimentos pessoais do pesquisador poderiam distorcer a realidade dos fatos observados. Portanto, o sociólogo deverá manter-se neutro ante ao fato observado.Com essa visão, Durkheim pretendia garantir à sociologia o sucesso das ciências exatas e biológicas, bem como a definição de seus conceitos como científicos, acabando de vez com os "achismos" ( o senso comum ), que interpretavam de maneira distorcida a realidade social. Deveríamos nos despir de todos os nossos preconceitos nossas idéias a priori quando fôssemos nos debruçar sobre os fenômenos sociais. Por fim, para identificar um fato social seria necessário que o cientista soubesse separar aqueles que apresentam características exteriores comuns, dentre os acontecimentos gerais e repetitivos. Todos esses procedimentos metodológicos são explicados na obra “As Regras do Método Sociológico”.

A normalidade e a classificação sociais
Em suas análises da consciência coletiva, Durkheim cria um novo campo de análise, chamado de morfologia social, sendo a classificação das espécies sociais numa clara referência às espécies estudadas em biologia. Partindo dessa classificação, um fenômeno social só poderia ser considerado imoral, reprovável, criminoso ou até mesmo anômico, dentro do contexto do nível de desenvolvimento e do tipo organização social estudada. Portanto, a definição do normal e do patológico seria dependente das observações e análises objetivas dos tipos específicos de sociedade e de seus níveis de desenvolvimento moral e institucional, ou seja, em função do estágio social da sociedade em questão. Para Durkheim,todas as sociedades tinham sua evolução a partir da horda, a forma social mais simples, igualitária, reduzida a um único segmento onde os indivíduos estariam justapostos e iguais. Através desse estudo, Durkheim identificou outras espécies sociais, encontrando-as no passado e no presente. Não podemos esquecer que essa classificação das sociedades deveria ter sempre como base a observação experimental, contrariando posturas filosóficas de sua época, como o positivismo comteano. São palavras de “Durkhiem: “Um fato social não pode, pois, ser acoimado de normal para uma espécie social determinada senão em relação com uma fase, igualmente determinada, de seu desenvolvimento” E ainda: "... do ponto de vista puramente biológico, o que é normal para o selvagem não o é sempre para o civilizado, e vice-versa."
Conheça a história da Comuna de Paris
A Comuna de Paris foi o primeiro governo operário da história, fundado em 1871 na capital francesa por ocasião da resistência popular ante à invasão alemã. A história moderna registra algumas experiências de regimes comunais, impostos como afirmação revolucionária da autonomia da cidade. A mais importante delas - a Comuna de Paris - veio no bojo da insurreição popular de 18 de março de 1871. Durante a guerra franco-prussiana, as províncias francesas elegeram para a Assembléia Nacional uma maioria de deputados monarquistas francamente favorável à capitulação ante a Prússia. A população de Paris, no entanto, opunha-se a essa política. Thiers, elevado à chefia do Gabinete conservador, tentou esmagar os insurretos. Estes, porém, com o apoio da Guarda Nacional, derrotaram as forças legalistas, obrigando os membros do governo a abandonar precipitadamente a capital francesa, onde o comitê central da Guarda Nacional passou a exercer sua autoridade. A Comuna de Paris - considerada a primeira República Proletária da história - adotou uma política de caráter socialista, baseada nos princípios da Primeira Internacional. O poder comunal manteve-se durante cerca de 40 dias. Seu esmagamento revestiu-se de extrema crueldade. De acordo com a Barsa mais de 20.000 communards foram executados pelas forças de Thiers. O governo durou oficialmente de 26 de março a 28 de maio, enfrentando não só o invasor alemão como também tropas francesas, pois a Comuna era um movimento de revolta ante o armistício assinado pelo governo nacional (transferido para Versalhes) após a derrota na Guerra Franco-Prussiana. Os alemães tiveram ainda que libertar militares franceses feitos prisioneiros de guerra, para auxiliar na tomada de Paris.

Os tipos de Suicídio como fatos sociais
Segundo Durlheim, são três os tipos de suicídio identificados sociologicamente: o egoísta, o altruísta e o anômico. O Suicídio egoísta seria um ato individualista extremado. É o tipo de suicídio que predomina nas sociedades modernas e é geralmente praticado por aqueles indivíduos que não estão devidamente integrados à sociedade e geralmente se encontram isolados dos grupos sociais (família, amigos, comunidade, por exemplo). Esse tipo de ato suicida seria resultado da divisão do trabalho social típica das sociedades modernas. O suicídio altruísta, por sua vez, seria um ato em que o indivíduo estaria tomado pela obediência e força coercitiva do coletivo, seja ele um grupo social restrito ao qual pertence ou mesmo a sociedade como um todo. Um exemplo típico de suicídio altruísta é o caso dos soldados japoneses que lutaram na Segunda Guerra Mundial e que ficaram conhecidos como camicases. Ao lançarem as aeronaves em que pilotavam sobre os inimigos provocando sua própria morte, os camicases japoneses morriam em honra ao imperador, considerado por eles uma divindade. A variante contemporânea do suicídio altruísta são os atos terroristas praticados por fanáticos religiosos e extremistas políticos. Por fim, o suicídio anômico,representado mais propriamente uma mudança abrupta na taxa normal de suicídio, seria marcado por uma vertiginosa ascensão do número de suicídios que ocorrem em períodos de crises sociais (o desemprego, por exemplo) ou processos de transformações sociais (como a modernização).

Um comentário:

  1. Pois é amigo, você resumidamente e com conteúdo nos colocou toda a obra de Durkheim, Fez um excelente trabalho que para nós professores ainda engatinhado na seara educacional precária, com falta de estrutura, melhores salários,... o que nos impossibilita sobremaneira uma melhor preparação. Obrigado e que venha outros artigos semelhantes em conteúdos. Abraço familiares e amigos tantos.

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